O que é síndrome de Tourette?

A síndrome de Tourette é uma condição atrelada ao neurodesenvolvimento, identificada por tiques involuntários e que se inicia ainda na infância. Devido às características, é uma doença muito estigmatizada, trazendo muito desconforto para essas pessoas.

O distúrbio ficou ainda mais conhecido quando alguns famosos vieram a público falar sobre ele, como a cantora americana Billie Eilish, que já relatou como é viver com Tourette.

Neste artigo, você irá entender mais sobre as características da síndrome, os sintomas, as causas e os tratamentos. Vamos lá?

O que é síndrome de Tourette?

A síndrome de Tourette foi descoberta em 1985 pelo médico francês George Gilles de la Tourette. Ele descreveu o distúrbio caracterizado pelo uso inapropriado de palavras e pela repetição involuntária de um som, palavra ou frase, dando origem ao nome da doença.

Hoje, já se sabe que a síndrome de Tourette é uma condição neuropsiquiátrica, ou seja, envolve tanto a área de neurologia quanto a de psiquiatria.

A doença é reconhecida pelos chamados tiques motores e vocais, que podem variar de frequência e intensidade. Os sintomas começam a aparecer logo na infância e perduram na adolescência.

Neste vídeo, você também pode saber mais sobre a condição:

Quais são os sintomas?

Primeiro, precisamos entender o que são os tiques, responsáveis por 80% dos sintomas iniciais da síndrome. Eles podem ser motores e vocais. Vamos ver alguns exemplos.

Tiques motores: piscar de olhos, girar braços, mexer na roupa, bater palmas, fazer gestos, tossir.

Tiques vocais: barulhos com a boca ou garganta, assovio, palavras – geralmente inapropriadas ou obscenas.

Em casos extremos da doença, a frequência e a intensidade desses sintomas são muito fortes, fazendo com que a síndrome ficasse famosa e muito falada por aí. Esses tiques possuem alguns nomes. São eles:

– coprolalia: uso involuntário de palavras;

– copropraxia: gestos obscenos, insultos;

– ecolalia: repetição de som, palavra ou frase falada pelo interlocutor;

– palilalia: repete o que ele mesmo está falando.

Por que os tiques acontecem?

Os tiques motores e vocais da síndrome de Tourette acontecem porque a área do cérebro responsável pela tomada de decisões não está funcionando corretamente, fazendo a pessoa sentir uma vontade incontrolável de realizar certos atos.

É muito importante ressaltar que são atos involuntários e essa pessoa não consegue controlá-los. Por conta disso, pode causar muito desconforto social, pois acaba soando como algo estranho ou até mesmo inapropriado.

Devido a todas essas características, a síndrome pode trazer muito estresse ao paciente, que muitas vezes passa muito tempo tentando dominar esses estímulos, podendo desencadear até mesmo fobia social e ansiedade grave.

Síndrome de Tourette, TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) e TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo): qual a relação? 

Você já deve ter visto por aí que a síndrome de Tourette tem relação com várias outras síndromes, o que, em parte, não deixa de ser verdade.

Imagine que o TOC é um grande círculo e, dentro dele, existem diversos outros círculos. Esses círculos menores são todas as condições diretamente relacionadas a ele. E a síndrome de Tourette, nesse caso, é uma delas. Por isso, podemos dizer que a síndrome de Tourette está dentro do espectro do TOC.

Isso acontece porque as características que abrangem essas doenças acabam sendo parecidas entre si, mas não são a mesma coisa! 

É fundamental entender que nem todo mundo que tem TOC apresentará sintomas da síndrome de Tourette, okay?

O mesmo ocorre no TDAH: nem todo mundo que tem TDAH apresentará sintomas de Tourette.

Vale reforçar a relação entre as três condições: pacientes diagnosticados com Tourette também podem ter sintomas de TOC e TDAH. Porém, apesar de frequente, isso não é uma regra.

Como é feito o diagnóstico?

A síndrome de Tourette costuma ser diagnosticada ainda na infância, mas o processo não é fácil.

Crianças costumam manifestar tiques normais, como ajeitar a roupa ou piscar os olhos. Por isso, o que precisa ser observado é se:

• a criança tem tiques motores e vocais por mais de um ano, não conseguindo passar 3 meses sem apresentar esses sintomas;
• os tiques precisam ser motores e vocais para fechar um diagnóstico de Tourette. Ou seja, além de, por exemplo, a criança piscar os olhos, ela também precisa fazer algum barulho, que não necessariamente seja uma palavra.
   

O diagnóstico é feito por um neurologista ou psiquiatra, levando-se certo tempo para que os sintomas possam ser avaliados.

Outro ponto essencial é que alguns medicamentos da classe de antidepressivos podem também causar alguns tiques, e essa observação precisa ser feita.

Existem graus de síndrome de Tourette? 

A síndrome de Tourette tende a apresentar sintomas com intensidade e frequência muito diferentes em cada pessoa. Alguns casos são tão leves que os indícios são quase imperceptíveis. Já em outros as manifestações são tão fortes que podem afetar completamente a vida do paciente em sociedade.

Por acontecer logo na infância, as características da doença podem provocar muito desconforto, pois as pessoas ao redor não compreendem que as atitudes são involuntárias. Elas, então, podem muitas vezes rir ou até mesmo pedir para a criança parar, causando um estado de ansiedade que acaba intensificando ainda mais os tiques.

Por isso, independentemente do grau da doença, é necessário procurar ajuda logo no início dos sintomas e contar com o apoio da escola para que o aluno com Tourette não seja alvo de bullying.

Quais são as causas?

Não existe uma causa específica para que alguém desenvolva a síndrome de Tourette. Porém, a psiquiatra Ana Gabriela Hounie, autora do livro “Tiques, cacoetes, síndrome de Tourette: um manual para pacientes, seus familiares, educadores e profissionais de saúde”, explica que as causas podem ser hereditárias e também ter fatores ambientais, como alguns tipos de infecção.

Segundo ela, os casos de síndrome de Tourette têm aumentado e podem estar relacionados a agentes do meio ambiente.

Quais são os tratamentos para a síndrome de Tourette?

A síndrome de Tourette é uma condição neuropsiquiátrica – tem caráter orgânico e também psicológico – e precisa ser tratada. Ela não deve ser taxada como algo que a pessoa possa simplesmente parar de fazer. Portanto, a conscientização de familiares é o primeiro passo para que isso funcione.

Após o diagnóstico, a condição é tratada com medicamentos que podem ajudar muito no controle de sintomas, porém não conseguem fazer com que haja a remissão total. Além da medicação, a psicoterapia também é indicada para auxiliar no tratamento.

Existem alguns casos raros onde a medicação pode não surtir efeitos. A saída é apostar numa cirurgia não tão invasiva feita no cérebro, diretamente na área que faz com que a doença se desenvolva. Essa opção é mais complexa e rara, mas ainda existe.

É importante lembrar também que nem todos os casos de síndrome de Tourette são extremos, como os que se tornaram midiáticos. Os sintomas podem ser mais brandos e, por isso, exigem muita atenção por parte dos pais.

A importância da divulgação da informação 

Devido a estigmatização dos pacientes com essa condição, a disseminação da informação sobre a síndrome se faz cada vez mais necessária. Na maioria dos casos, existe tratamento eficaz! E a conscientização é parte do processo.

Você já conhecia a síndrome de Tourette?