A prevenção do câncer de mama é um dos assuntos mais importantes quando falamos de saúde da mulher e do autocuidado feminino. A campanha Outubro Rosa existe desde a década de 90 e fomenta anualmente a necessidade e importância do rastreamento da doença, que tem mais de 95% de chances de cura se descoberta no início, segundo o Inca (Instituto Nacional do Câncer).
Neste artigo, falaremos sobre as principais questões acerca do câncer de mama. Para nos ajudar com o tema, contamos com a ajuda dos especialistas da Célula Mater, clínica credenciada Omint, Dra. Fernanda Deutsch Plotzky, ginecologista e obstetra e o mastologista Dr. Jonathan Yugo Maesaka, que nos contaram sobre os principais pontos do assunto e como você pode se cuidar melhor.
O que é o câncer de mama?
O câncer de mama é o câncer mais frequente entre mulheres no Brasil. Ele acontece como todos os outros cânceres: inicia-se um desenvolvimento anormal das células presentes na mama, dando origem a um tumor maligno.
Segundo dados de 2022 divulgados pelo INCa, além de o câncer mais comum no público feminino também é a primeira causa de morte por câncer no Brasil, um número alarmante e que ressalta ainda mais a necessidade das campanhas que reforçam a importância do diagnóstico precoce, que pode salvar vidas.
Apesar de raro, os homens também podem apresentar a condição, mas representam apenas 1% dos casos.
Hoje já se sabe que cânceres de mama que são descobertos ainda na sua fase inicial, tem mais de 95% de chances de cura, de acordo com a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (FEMAMA).
É por conta dessa realidade que o movimento Outubro Rosa tem como foco principal a disseminação de informações sobre o tema e a conscientização do quão importante é o rastreamento da doença, e ainda ressaltar a importância do diagnóstico precoce.
Quais são os principais sintomas do câncer de mama?
O principal ponto sobre isso é que a maioria dos casos de câncer de mama, principalmente os que estão em sua fase inicial, não tem sintomas.
“A maior queixa que recebo no consultório é sobre dor nas mamas e o quanto isso deixa as pacientes preocupadas. Chegam com medo de estarem com câncer porque estão com dor, mas é importante esclarecermos que isso não é um sintoma comum de câncer de mama”, comenta a Dra. Fernanda.
Porém, existe um tipo de câncer de mama inflamatório que pode apresentar sintomas, como:
- Alteração da textura da pele – pele fica parecida com “casca de laranja”
- Saída de secreção aquosa ou sanguinolenta pelo mamilo
- Vermelhidão e febre da mama
- Nódulos da mama ou pescoço
Portanto, o câncer de mama pode apresentar sintomas sim, porém apenas em alguns casos, como:
- Tipos mais raros
- Estágios mais avançados da doença
Mas, em geral, ele costuma ser silencioso e por isso necessita de atenção dobrada.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico é feito a partir de exames clínicos e de imagem. O médico responsável, ginecologista ou mastologista, solicitará que os exames sejam feitos e os avaliando em conjunto conseguirá concluir qual o resultado.
Avaliação completa
A avaliação clínica deve iniciar-se, pela recomendação geral, aos 30 anos ou menos. A ultrassonografia pode ser solicitada para pacientes de qualquer idade, mas em geral a mamografia se inicia, anualmente, por volta dos 40 anos. Já a ressonância é solicitada mais raramente, de acordo com o histórico pessoal e familiar e achados nos demais exames.
Além disso, antes de qualquer coisa é necessário um diálogo aberto entre paciente e médico, para que ele possa entender o seu histórico familiar, seus hábitos e estilo de vida e como vocês conduzirão esse rastreamento.
O medo da dor na realização dos exames é muito comum
Essa é uma das principais queixas entre as mulheres sobre a realização dos exames de rastreamento do câncer de mama: a dor.
Muitas deixam de fazer por medo do procedimento, o que acaba prejudicando o processo de avaliação, uma vez que esses exames são indispensáveis para se chegar a um diagnóstico.
Hoje com a tecnologia mais avançada, é possível fazer esses exames de forma mais confortável, com máquinas mais anatômicas e que deixam a paciente mais confortável.
Mas algumas dicas para evitar maior desconforto é fazer os exames longe do seu período menstrual, quando as mamas já não estão mais tão sensíveis. Caso você tenha uma sensibilidade muito grande, converse com o seu médico.
Nem todo caroço na mama é câncer
Assim como citamos acima, a maioria dos cânceres não apresentam sintomas no início. Caroços, ou cistos, podem aparecer nas mamas por muitos motivos, como a obstrução de glândulas, infecções, tratamentos hormonais e nódulos de gordura, sendo caracterizados como lesões benignas, que não oferecem risco à saúde da mulher. Porém, no exame de toque muitas vezes não é possível diferenciá-los. Por isso, é tão importante realizar exames de imagem e acompanhamento periódico, para a detecção e análise mais detalhada e precisa.
Devo fazer o autoexame?
Você já deve ter visto e ouvido por aí a não recomendação dos médicos para o autoexame, mas, não é bem assim.
“O autoexame é uma ferramenta poderosa de autoconhecimento. A mulher deve conhecer o seu corpo, suas características, aspecto da pele etc. A única questão é que o autoexame não substitui o rastreamento. Portanto, a mulher deve sim fazer o autoexame, mas o rastreamento precisa estar aliado a isso também!”, comenta o Dr. Jonathan.
A recomendação do autoexame aliado ao rastreamento acontece porque a maioria dos cânceres de mama podem não apresentar nenhum sintoma como também passar despercebidos até mesmo por um mastologista no exame de toque, visto que esses nódulos podem ser tão pequenos que não podem ser sentidos, podem ser detectados somente por um bom exame de imagem.
A pandemia desacelerou a busca pelo rastreamento
Devido a paralisação dos serviços por conta da pandemia da Covid-19 mais de um milhão de mulheres deixaram de fazer a mamografia no ano de 2020.
“Os números já voltaram a crescer, mas ainda não bateram os de 2019. Isso impacta diretamente no estágio dos cânceres que chegam até nós no consultório. Cânceres que poderiam ter sido diagnosticados em seu estágio inicial, acabam chegando em formas mais avançadas pela falta do diagnóstico feito ainda no início da doença.”, comenta o Dr. Jonathan.
Quando devo começar o rastreamento para o câncer de mama?
A idade para o início do rastreamento do câncer de mama varia de acordo com o grupo em que se está inserida.
Grupo de baixo risco: para pacientes sem histórico de câncer na família, o rastreamento deve começar aos 40 anos com mamografia, podendo ser complementada com outros exames, e deve ser feita anualmente.
Grupo de alto risco: já para pacientes que têm familiares de 1º grau (mãe, filha, avó, irmã – incluindo familiares homens – que tiveram câncer de mama) o rastreamento deve começar a ser feito 10 anos antes de quando esse familiar apresentou o diagnóstico. Mulheres que possuem fatores que aumentam seu risco de desenvolver o câncer (como biópsias prévias, ou alterações genéticas) devem conversar com o médico para definir a melhor maneira de acompanhar as mamas.
A recomendação geral é que uma primeira avaliação deve acontecer aos 30 anos de idade para todas as pessoas. Assim, fica mais fácil saber quando começar.
Os testes genéticos estão aí para ajudar, mas é preciso saber usá-los
A medicina avançou muito. Com isso, é possível realizar testes genéticos para identificar a predisposição para doenças e tratar ou prevenir isso o quanto antes. Porém, existem cuidados a serem tomados nesse momento.
“Na medicina nada é 100%. Por isso, não podemos dizer nem nunca, nem jamais. Quando pedimos um teste genético, precisamos saber para que estamos pedindo e qual benefício irá trazer para a vida dessa paciente”, comenta Dra. Fernanda.
Isso porque pedir um teste genético hoje sem um diálogo com a paciente e sem um objetivo final pode gerar problemas, como um medo desnecessário sobre a possibilidade de ter uma doença no futuro.
Os testes funcionam bastante, principalmente, para identificar alguns genes que já se sabe que estão ligados à maior chance do desenvolvimento do câncer de mama, como os genes BRCA1 e BRCA2.
Quando uma paciente apresenta um resultado positivo para eles, por exemplo, é possível realizar uma cirurgia chamada mastectomia profilática, na qual é possível remover o tecido mamário, preservando o máximo de pele e formato e reduzindo drasticamente as chances dessa paciente vir a desenvolver um câncer de mama no futuro.
Por isso, é preciso uma relação muito próxima e aberta entre a paciente e o seu médico, pois todas as possibilidades são discutidas e as decisões são tomadas em conjunto, sempre visando o bem-estar da mulher.
O câncer de mama e a saúde mental feminina
O diagnóstico de câncer ainda é um estigma na sociedade e uma notícia difícil de ser recebida. Isso porque é uma doença que historicamente está associada a perda de qualidade de vida, além de estar muito relacionada à morte.
Hoje as campanhas voltadas para a conscientização do câncer de mama têm como objetivo trazer a mensagem de que o problema está justamente na não investigação da doença, pois a cura se torna mais difícil em estágios avançados.
A definição do tratamento é um consenso entre a paciente e o seu médico, todas as possibilidades serão discutidas. Além disso, o tratamento é conduzido não só pelo ginecologista e mastologista, mas sim por uma equipe multidisciplinar que trabalhará em conjunto na recuperação dessa paciente.
“É muito importante levarmos essa mensagem de que o tratamento é feito com uma equipe multidisciplinar. Mastologistas, ginecologistas, psiquiatras, fisioterapeutas, psicólogos e quais outros profissionais precisam estar na recuperação, colaborando para que ela seja feita da forma mais leve e humana possível”, ressalta Dr. Jonathan.
“Por isso é tão importante a mensagem do Outubro Rosa, sobre a importância imensa que existe no diagnóstico precoce. Ele pode mudar a história de muitas mulheres por aí”, afirma Dra. Fernanda.
É possível prevenir?
A prevenção do câncer de mama vem dos bons hábitos de saúde, como alimentar-se bem e se exercitar. Isso porque hoje também já se sabe que a obesidade e o sedentarismo podem colaborar para o aparecimento de cânceres, não só de mama como de intestino, ovários e endométrio, por exemplo. Além disso, existe uma forma natural de prevenir-se do câncer de mama: amamentar.
“Quanto mais tempo a mulher amamentar, menor o risco de desenvolver um câncer de mama. Isso também se aplica à idade da maternidade: quanto mais cedo a mulher tem filhos, menos chances de o câncer de mama se manifestar” afirmam os Drs.
Portanto, não deixe seus exames para amanhã. Busque um profissional e mantenha seu check-up em dia, pois isso pode mudar a sua vida!
Agora que você já aprendeu mais sobre o assunto, que tal compartilhar com alguém que você ama?
Até a próxima!