Nos últimos meses, a disseminação dos casos de dengue tem gerado crescente preocupação entre especialistas em saúde pública e governos. Isso se deve ao fato de que o número de contaminados está quatro vezes maior do que o registrado em 2023.
Durante as seis primeiras semanas epidemiológicas deste ano, foram registrados mais de 1 milhão de casos – no mesmo período em 2023 foram 128.842.
Segundo o painel de monitoramento de arboviroses do Ministério da Saúde, até o momento, mais de 200 mortes foram confirmadas em decorrência da doença, enquanto mais de 700 óbitos estão em investigação.
Diante desse cenário desafiador, é fundamental compreendermos os aspectos relacionados à dengue. Para falar com propriedade sobre o assunto, entrevistamos a Dra. Mirian Dal Ben, infectologista credenciada Omint. Aproveite a leitura!
O que é dengue?
A dengue é uma doença viral transmitida pela picada do mosquito fêmea Aedes aegypti. A doença é causada por um dos quatro sorotipos do vírus da dengue – DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4 –, todos pertencentes à família Flaviviridae.
No Brasil, os vírus da dengue são transmitidos, como vimos anteriormente, pela fêmea do mosquito da dengue (Aedes aegypti). No entanto, ele não é o único responsável pela transmissão da doença.
Embora o Aedes aegypti seja o vetor mais comum, o Aedes albopictus também pode desempenhar um papel na transmissão da dengue, especialmente em áreas onde ambos os mosquitos coexistem.
Quais são os sintomas de dengue?
Os sintomas da dengue podem variar de leves a graves. “Normalmente, quando uma pessoa se infecta, ela pode incubar a doença por até 14 dias, até surgirem os primeiros sintomas”, comenta a Dra. Mirian Dal Ben.
Os sintomas iniciais da dengue incluem:
- febre (acima de 40ºC);
- dores no corpo;
- dores articulares;
- dor de cabeça e atrás dos olhos;
- manchas na pele;
- fadiga extrema.
Contudo, é importante compreender que os sintomas variam em seu espectro. “Existem pacientes mais sintomáticos com sintomas mais graves, enquanto outros relatam sintomas mais leves”, complementa a Dra. Mirian.
E como diferenciar os sintomas da dengue clássica para a mais grave?
A evolução para a dengue grave acontece nas 48 horas após a melhora da febre, o que costuma acontecer entre o terceiro e o sétimo dia da doença. O paciente deve estar sempre atento aos sinais de alerta que indicam a evolução para uma forma mais grave da doença:
- dor abdominal intensa;
- vômitos persistentes;
- dificuldade de respirar;
- sensação de desmaio;
- confusão mental ou irritabilidade em crianças;
- sangue nas fezes;
- queda de pressão;
- sangramento gengival.
Nesta fase em que a febre começa a melhorar, é muito importante que o paciente seja avaliado por um profissional de saúde e que faça um exame de sangue para monitorar outros parâmetros de que possa estar evoluindo com um quadro grave.
Complicações e alertas
A Dra. Mirian ainda explica que uma das complicações mais graves associadas à dengue é conhecida como “choque do dengue” ou leakage syndrome (em português, síndrome do extravasamento).
“A fase crítica ocorre exatamente quando a febre melhora. São nas 48 horas após a diminuição da febre que o paciente entra na fase delicada, na qual ele pode desenvolver o choque da dengue ou a dengue hemorrágica“, explica.
Essa fase crítica ocorre quando a febre começa a diminuir. Durante esse estágio, acontece o fenômeno chamado de aumento da permeabilidade capilar, em que os vasos sanguíneos se tornam mais permeáveis, resultando na saída de líquido do interior do vaso.
Isso pode levar a um quadro de edema, no qual o paciente apresenta inchaço e acúmulo de líquido nos pulmões ou no abdômen. Como consequência desse processo, a pressão arterial pode cair abruptamente, levando o paciente ao estado de choque.
O choque do dengue é uma condição grave que requer intervenção médica imediata, pois pode progredir rapidamente para complicações potencialmente fatais se não for tratado pronta e adequadamente.
Uma segunda complicação grave é a dengue hemorrágica, caracterizada por sangramentos que podem ocorrer em várias partes do corpo, especialmente no trato gastrointestinal.
Isso acontece devido à diminuição significativa do número de plaquetas no sangue, um dos principais componentes responsáveis pela coagulação.
Quando as plaquetas caem a níveis críticos, a capacidade do organismo de formar coágulos sanguíneos é comprometida, o que pode resultar em hemorragias internas e externas. Os sangramentos gastrointestinais são particularmente preocupantes devido ao risco de complicações graves.
Quem tem comorbidades, deve se preocupar?
O Ministério da Saúde já destacou em seu manual que pacientes com maior risco de evolução da doença requerem acompanhamento próximo.
Esse grupo inclui os portadores de hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, asma brônquica, doenças hematológicas ou renais crônicas, doenças graves do sistema cardiovascular, hepatopatias, doença ácido-péptica ou autoimune.
É importante salientar que mesmo os indivíduos sem comorbidades, classificados como A, devem ter seus níveis de hematócrito monitorados quando entram na fase crítica da doença, que é caracterizada pela diminuição da febre.
Diagnóstico
O diagnóstico da dengue é feito principalmente por meio de exames de sangue.
Nos três primeiros dias após o início dos sintomas, pode-se realizar o exame de antígeno NS1. Porém, este pode apresentar até 30% de falsos negativos, especialmente se for a primeira infecção pelo vírus ou se o paciente já teve dengue anteriormente, podendo chegar até 70% de falso negativo.
O diagnóstico definitivo da infecção é feito por sorologia, geralmente a partir do sexto dia de sintomas. No entanto, nesse estágio, o paciente já pode ter passado da fase crítica da doença, o que limita a utilidade desse exame para o manejo clínico imediato.
Tratamentos e cuidados
Após a manifestação dos sintomas, o primeiro passo é buscar atendimento médico para diagnosticar e realizar o tratamento a dengue.
A Dra. Mirian Dal Ben explica que é imprescindível orientar a pessoa infectada sobre a importância da hidratação adequada. “Recomenda-se que o paciente consuma pelo menos 60 ml de líquidos por quilo de peso corporal diariamente, com cerca de um terço desse volume na forma de solução de hidratação oral. Em crianças, este volume pode chegar até 100 ml de líquidos por quilo de peso corporal”.
É muito difícil atingir esta meta de hidratação pois os pacientes, habitualmente, não estão se sentindo bem, com sintomas de náuseas. Por este motivo, é muito importante que se faça um controle rigoroso da quantidade de líquidos que o paciente consegue ingerir durante o dia.
Além da hidratação, o tratamento da dengue geralmente envolve o alívio dos sintomas, como febre e dores no corpo, com medicamentos analgésicos e antipiréticos adequados, sob orientação médica.
Em casos mais graves, pode ser necessário o monitoramento frequente da pressão arterial, contagem de plaquetas e o suporte hospitalar para prevenir complicações e garantir uma recuperação adequada.
É importante que o paciente siga as orientações médicas e mantenha repouso adequado durante o período de recuperação, além de evitar o uso de medicamentos à base de ácido acetilsalicílico (aspirina), corticoides e anti-inflamatórios não esteroides, que podem aumentar o risco de sangramento.
Qual é o melhor repelente contra o mosquito da dengue?
A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e a Anvisa recomendam que, para ser efetivo contra o mosquito da dengue, o repelente deve conter uma das seguintes substâncias: icaridina 20%-25% – duração de dez horas, DEET 10%-15% – duração de seis a oito horas e IR3535 – duração de até quatro horas.
Vale ressaltar que o uso de inseticidas à base de citronela, andiroba, óleo de cravo, entre outros, não possuem eficácia comprovada.
A Anvisa proíbe o uso de qualquer produto em bebês de até 5 meses. Para proteger crianças a partir de 6 meses, a SBD orienta vestir a criança com roupas claras e instalar telas de proteção nos ambientes. Além disso, é importante usar repelentes com cautela.
Prevenção contra a dengue
O mosquito fêmea pode depositar até 1.500 ovos em diversos recipientes contendo água parada e limpa. Além disso, entre 30% e 40% desses ovos já nascem infectados com o vírus da dengue. Portanto, uma das medidas preventivas mais eficazes é o controle da população do vetor, combatendo os focos de larvas.
Algumas boas práticas são:
- eliminar recipientes com água parada;
- limpar calhas e canaletas;
- usar telas de proteção e repelentes;
- manter piscinas, lixeiras e caixas d’água cobertas;
- promover conscientização.
Como você tem protegido o seu lar e a sua família contra o mosquito da dengue? Agora que você já tem mais conhecimento sobre essa doença, compartilhe-a para que mais pessoas estejam informadas sobre os riscos e as medidas preventivas necessárias para evitar a propagação da dengue.
Vamos juntos somar esforços e proteger a saúde de todos.
Até a próxima!