Segundo o relatório do World Obesity Atlas 2023, divulgado pela Federação Mundial da Obesidade, estima-se que até 2035 o Brasil tenha 130 milhões de adultos obesos. Até 2022 o País somava 6,7 milhões de pessoas com obesidade, de acordo com dados do Ministério da Saúde.
E não para por aí! A preocupação se intensifica quando voltamos nosso olhar para as gerações futuras.
Conforme as estatísticas revelam, é possível que crianças e adolescentes representem cerca da metade da população jovem afetada pela obesidade infantil até 2035 resultando em aproximadamente 20 milhões de jovens acima do peso.
Esse cenário realça a urgência de implementar estratégias eficazes para combater essa tendência e promover hábitos saudáveis. Para falar com propriedade sobre o assunto, entrevistamos o Dr. José Afonso Sallet, médico cirurgião do aparelho digestivo e credenciado Omint.
Continue a leitura e descubra as causas, os riscos, como calcular o IMC e os tratamentos para a obesidade.
O que é obesidade e suas causas?
Tanto o sobrepeso quanto a obesidade são caracterizados pelo acúmulo anormal ou excessivo de gordura no corpo, representando uma condição de risco à saúde.
O Dr. José Afonso Sallet esclarece que a obesidade é uma das principais causas de morte evitável no mundo atual. Além disso, é uma doença multifatorial que envolve diversos elementos, como:
- comportamentais: podem contribuir para o ganho de peso escolhas pouco saudáveis, como o consumo excessivo de alimentos ricos em gordura e açúcar. E também padrões inadequados, como comer muito ou pular refeições.
- inatividade física: o estilo de vida sedentário, caracterizado pela ausência de exercícios regulares ou atividades que não tenham impacto significativo peso, pode contribuir ao acúmulo de gordura corporal.
- predisposição genética e fatores hereditários: pacientes com histórico familiar de obesidade têm maior probabilidade de desenvolvê-la, devido à influência de genes no metabolismo, apetite e distribuição de gordura no corpo. Isso pode tornar algumas pessoas mais propensas ao ganho de peso, independentemente de seus estilos de vida.
- questões endocrinológicas: distúrbios hormonais e alterações no funcionamento do sistema endócrino podem contribuir para o desenvolvimento da obesidade. Como exemplo está a condição de resistência à insulina, o hipotireoidismo e a síndrome dos ovários policísticos, que podem afetar o metabolismo e levar ao ganho de peso.
Quais são os graus da obesidade?
Fazer o cálculo da obesidade de acordo com o IMC é confiável? Sim! A classificação dos graus ou dos tipos de obesidade corresponde ao cálculo do IMC (índice de massa corpórea), em que se divide o peso (kg) pelo quadrado da altura (em metros). O resultado revela se o peso está adequado, abaixo ou acima do desejado.
Classificação do IMC:
Entre 20 e 30: sobrepeso
Entre 30 e 35: obesidade grau 1
Entre 35 e 40: obesidade grau 2
Maior que 40: obesidade grau 3
Como calcular o IMC?
Suponha que um paciente pese de 130 kg e meça 1,75 metros.
1. Primeiro, elevamos a altura ao quadrado:
altura² =1,75×1,75 = 3,0625
2. Em seguida, dividimos o peso pela altura ao quadrado:
IMC = 130 / 3,0625 ≈ 42,37
Portanto, o IMC dessa pessoa é aproximadamente 42,37.
Neste caso, o IMC indica que o paciente está na faixa da obesidade grau III, o que sugere o risco aumentado de desenvolver problemas de saúde relacionados ao peso, como doenças cardíacas, hipertensão e diabetes mellitus (tipo 2).
“A obesidade grau 3 é o nível onde o paciente já tem doenças associadas importantes ou vai desenvolver”, afirma o Dr. José Afonso Sallet.
Quais são os riscos associados à obesidade a curto, médio e longo prazo?
A obesidade é uma condição multifacetada que apresenta diferentes riscos conforme sua gravidade e duração.
No estágio mais avançado, conhecido como obesidade grau 3 (ou obesidade mórbida), os pacientes geralmente já possuem ou estão propensos a desenvolver doenças associadas significativas.
Segundo o Dr. José Afonso Sallet, todos os fatores de risco da obesidade tornam a doença crônica complexa associada a uma série de outras enfermidades que são desencadeadas pelo excesso de peso. “Dentre elas, destacam-se as doenças metabólicas e as musculoesqueléticas”, comenta.
As complicações da obesidade vão além das questões metabólicas! Incluem também um aumento do risco de desenvolvimento de cânceres, particularmente os ginecológicos.
A obesidade é reconhecida como uma condição inflamatória, o que pode explicar, em parte, a associação com certos tipos de câncer.
É importante considerar também o tempo ao avaliar os riscos da obesidade, sendo o curto prazo até 4 anos, o médio prazo de 5 a 9 anos, e a longo prazo 10 anos ou mais.
A curto prazo, as complicações mais imediatas da obesidade extrema geralmente estão relacionadas a problemas osteomusculares, enquanto as questões metabólicas tendem a se manifestar mais no período de médio a longo prazo.
Sobrepeso e obesidade são a mesma coisa?
O sobrepeso e a obesidade compartilham uma origem comum, sendo caracterizados pelo excesso de peso corporal. No entanto, eles são distintos em termos de classificação e definição.
O sobrepeso refere-se ao excesso de peso corporal inicial, muitas vezes considerado como o estágio inicial da obesidade.
O Índice de Massa Corporal (IMC) é uma medida comumente utilizada para avaliar o peso em relação à altura, e o IMC entre 25 e 29,9 é geralmente considerado como indicativo de sobrepeso.
Por outro lado, a obesidade é caracterizada por excesso de gordura corporal significativo que pode levar a complicações de saúde. O IMC igual ou superior a 30 é considerado como indicativo de obesidade.
Portanto, embora sejam diferentes na classificação, tanto o sobrepeso quanto a obesidade compartilham os mesmos fatores de origem, como hábitos alimentares inadequados, falta de atividade física, predisposição genética e outros fatores ambientais e comportamentais.
O que acontece com o corpo quando a pessoa tem sobrepeso e obesidade?
O paciente com excesso de peso torna-se suscetível a uma inflamação crônica, desencadeando uma série de problemas e doenças associadas, incluindo condições metabólicas, distúrbios do trato digestivo e cânceres ginecológicos. Além disso, surgem questões relacionadas à artrose e outros problemas articulares.
Além dos problemas físicos, as questões psicológicas desempenham um papel significativo, desde o isolamento social até conflitos familiares e limitações sociais.
“A obesidade é uma condição multifatorial que não pode ser simplificada apenas como uma questão de força de vontade ou comprometimento do paciente. A forma para tratar essa condição requer uma equipe multidisciplinar para lidar com suas diversas facetas”, explica o Dr. José Afonso Sallet.
Em quais casos a cirurgia bariátrica é recomendada?
A cirurgia bariátrica é recomendada para pacientes com as seguintes condições clínicas:
- IMC entre 35 e 40, com doenças associadas.
- IMC igual ou superior a 40, independentemente de doenças associadas.
Pacientes com IMC acima de 40 estão em um estágio avançado de obesidade, e mesmo que não apresentem doenças associadas, estão em alto risco de desenvolvê-las.
Por outro lado, não há benefício em realizar a cirurgia em pacientes com IMC abaixo de 30 e clinicamente saudáveis, pois seria principalmente por razões estéticas.
O especialista explica que, no caso de pacientes com IMC igual ou menor que 30, é ético realizar a abordagem com uma equipe multidisciplinar, possivelmente envolvendo medicação ou procedimentos endoscópicos como o uso de balão intra-gástrico.
É possível para pacientes com IMC acima de 40 emagrecer sem intervenção cirúrgica?
Para pacientes nesse estágio avançado de obesidade, a história natural envolve muitos anos de ganho de peso, e geralmente eles já tentaram várias abordagens clínicas. Quando buscam a cirurgia bariátrica é porque não encontraram mais alternativas.
O Dr. José Afonso Sallet explica que é extremamente desafiador para pacientes com IMC acima de 40 obterem sucesso com abordagens clínicas tradicionais, especialmente no que diz respeito à perda de peso e à redução da obesidade para o sobrepeso.
“Embora algumas medicações possam ser eficazes na perda de peso, sua eficácia é temporária, e os pacientes geralmente enfrentam dificuldades em manter o peso perdido a longo prazo”, esclarece.
A cirurgia bariátrica oferece uma abordagem diferente, criando mudanças significativas na saciedade e no metabolismo, o que pode ajudar os pacientes a atingirem seus objetivos de perda de peso de forma mais eficaz.
Portanto, a cirurgia é frequentemente considerada uma opção quando se trata de alcançar e manter a perda de peso a longo prazo.
Existe obesidade saudável?
Em primeiro lugar, é essencial que o paciente desenvolva uma aceitação pessoal e mantenha uma autoestima positiva, pois isso pode influenciar positivamente o processo de tratamento multidisciplinar da obesidade.
Do ponto de vista clínico, é difícil afirmar que a obesidade em níveis extremos pode ser considerada saudável, mas sim que algumas pessoas obesas possam apresentar menos complicações de saúde.
A obesidade, mesmo na ausência de problemas de saúde aparentes, ainda está associada ao aumento do risco de desenvolver doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, certos tipos de câncer e outras condições crônicas.
Isso porque, enquanto alguns obesos podem ter níveis normais de pressão arterial, colesterol e glicose no sangue, e aparentemente boa saúde metabólica, isso não significa necessariamente que estão livres de riscos futuros para a saúde.
Portanto, seria incorreto rotular essa condição como completamente saudável, uma vez que representa um risco significativo para a saúde a longo prazo.
Qual é a relação entre a microbiota intestinal e a obesidade?
A microbiota intestinal refere-se às bactérias que normalmente habitam o intestino e desempenham funções vitais, como auxiliar no processo digestivo, na absorção de nutrientes e na regulação do trânsito intestinal para absorção de gorduras e calorias.
Quando ocorre um desequilíbrio nessa flora intestinal, conhecido como disbiose, o paciente pode começar a enfrentar problemas de saúde.
E esse desequilíbrio é considerado um dos principais fatores associados à obesidade e está frequentemente relacionado ao consumo excessivo de carboidratos e gorduras inadequadas na dieta.
Como resultado, o desequilíbrio na flora intestinal pode agravar os problemas relacionados à obesidade, especialmente as questões metabólicas.
Quais são as melhores atividades físicas para pessoas obesas?
Para pessoas obesas, é importante escolher atividades físicas que sejam seguras, eficazes e que possam ser facilmente adaptadas ao nível de condicionamento físico.
A musculação é uma excelente opção nesse sentido. Envolvendo o uso de pesos ou resistência para fortalecer e tonificar os músculos, ela é excelente para:
- queima de calorias: aumenta o metabolismo de repouso, o que significa que você queima mais calorias mesmo quando não está se exercitando.
- aumento de massa muscular magra: construindo massa muscular magra, é possível melhorar a composição corporal e aumentar o metabolismo basal.
- melhora da saúde óssea: a musculação ajuda a fortalecer os ossos, o que é importante para prevenir osteoporose.
- melhoria da função cardiovascular: embora a musculação seja mais conhecida por seus benefícios musculares, também pode ajudar a melhorar a saúde cardiovascular, reduzindo a pressão arterial e os níveis de colesterol.
A importância da abordagem multidisciplinar no emagrecimento
Cada indivíduo é único, e as causas subjacentes do excesso de peso podem variar significativamente de uma pessoa para outra.
Por isso, é essencial que profissionais de diferentes áreas – médicos, nutricionistas, educadores físicos, psicólogos e outros especialistas – trabalhem juntos para desenvolver um plano de tratamento personalizado que atenda às necessidades específicas de cada paciente.
Por ser uma doença crônica complexa, a atuação de uma equipe multidisciplinar pode identificar e tratar condições como diabetes, hipertensão, distúrbios hormonais ou distúrbios alimentares, que estão frequentemente associadas ao excesso de peso.
Esse método multidisciplinar considera não apenas a dieta e o exercício, mas também outros aspectos importantes, como saúde mental, qualidade do sono, níveis de estresse e padrões de comportamento alimentar.
Além disso, o Dr. José Afonso Sallet complementa: “O grande tratamento para doenças pandêmicas como a obesidade está na prevenção. Portanto, temos de concentrar forças na educação nutricional infantil, na alimentação saudável e na atividade física desde a primeira infância”.
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