O aleitamento materno pode parecer um consenso para a maioria das pessoas como a melhor forma de alimentação para os bebês. No entanto, ainda existem muitos tabus e dúvidas que giram em torno da amamentação. Agosto é, por lei, o mês de debater essa prática e destacar sua importância para o crescimento saudável e sustentável das crianças. Aproveite para esclarecer as principais questões neste artigo.
Em 2017, o Congresso Nacional Brasileiro definiu, por meio da Lei nº 13.435, como Agosto Dourado o Mês do Aleitamento Materno. Com isso, devem ser intensificadas ações de conscientização e esclarecimento sobre a importância do aleitamento.
Organizações internacionais, como a Aliança Mundial para Ação de Aleitamento Materno (WABA, em inglês), também promovem a pauta. Em 2020, a Semana Mundial de Aleitamento Materno aborda a amamentação como fator primordial para tornar o Planeta mais saudável.
Neste artigo, confira algumas dúvidas que podem surgir ao longo da gestação ou nos primeiros meses de amamentação. Informação é o ponto de partida para ter sucesso nesse processo.
- Os benefícios do aleitamento materno
- Preparação para a amamentação
- Colostro: primeiro leite
- Amamentação em livre demanda
- Fique atenta: freio da língua e mastite
- Amamentação e fim da licença-maternidade
- Desmame gentil: o fim de uma história
- Mitos e verdades do aleitamento materno
- Doação de leite materno: como posso ajudar?
- Boa Hora e boa lua de leite
Os benefícios do aleitamento materno
A amamentação é um processo importante para os recém-nascidos pelos diversos benefícios estudados e comprovados ao longo dos anos. Por meio do leite materno, o bebê fica protegido de infecções, principalmente de doenças gastrintestinais e respiratórias, pela presença dos anticorpos IgA secretores (IgAS).
Para ter uma ideia, a amamentação de todos os bebês nos primeiros 2 anos de vida pode salvar a vida de mais de 820 mil crianças com menos de 5 anos todos os anos, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde – OMS e do Fundo das Nações Unidas para a Infância – Unicef.
Um estudo divulgado no Congresso Europeu de Obesidade também aponta a amamentação como ferramenta para prevenir o excesso de peso em longo prazo. Foram usados dados de 100.583 meninos e meninas de 22 países europeus.
O resultado indica que, quando comparadas àquelas alimentadas exclusivamente com leite materno por 6 meses, as crianças não amamentadas ou que receberam leite humano por períodos mais curtos têm maior probabilidade de serem obesas.
Segundo a enfermeira obstetra Cinthia Calsinski, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o leite materno possui naturalmente uma função protetora e imunomoduladora – ou seja, que altera o sistema imunológico conforme a necessidade do organismo. Para o atual momento de pandemia, não há evidências de risco e manter o bebê em aleitamento continua sendo uma ótima forma de proteção.
“Diariamente, o organismo modifica a composição para proporcionar nutrientes e componentes específicos adequados a cada idade e situação”, explica a especialista, que atua no Boa Hora, programa da Omint voltado a fornecer orientação para clientes gestantes e puérperas.
A amamentação também traz benefícios para a lactante, que tem menos riscos de desenvolver câncer de ovário, mama e útero, e menos chances de sofrer doenças como artrite reumatoide, diabetes e problemas cardiovasculares.
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O leite materno deve ser oferecido de maneira exclusiva nos primeiros 6 meses de vida e de forma complementar até os 2 anos. A primeira dúvida relacionada ao tema para mulheres que estão grávidas é como se preparar para essa jornada. O melhor caminho é buscar informações atualizadas e respaldadas para entender que tipo de situações será possível se deparar.
Atualmente, os especialistas não recomendam realizar nenhuma preparação física para conseguir amamentar. Para Cinthia, que também é consultora em amamentação, o preparo hormonal que acontece durante a gestação é que ajudará a amamentação a fluir naturalmente.
“A aréola tende a crescer e surge a aréola secundária, que é como se fosse uma ‘sombra’ ao redor da aréola. Ela escurece logo após o parto devido ao estímulo hormonal para que o bebê ‘encontre’ onde deve abocanhar”, explica a enfermeira obstetra.
A informação é tão importante porque ainda existem mitos sobre o aleitamento materno. Até há pouco tempo, o senso comum levava mulheres a usarem artefatos como as “conchas” para ajudar a formar o bico, principalmente daquelas que tinham o mamilo plano ou invertido. No entanto, o acessório pode pressionar os ductos mamários, prejudicando a produção de leite.
Outro fator que colabora para uma amamentação tranquila é o apoio que a mulher recebe para insistir no aleitamento materno. “Diversos estudos mostram que as lactantes que não recebem suporte, carinho e apoio acabam desistindo da amamentação, prejudicando a si e ao bebê”, diz Cinthia.
O colostro é o primeiro leite, de aspecto amarelado, que se encontra nos alvéolos das mamas do último trimestre da gestação até os primeiros dias do pós-parto. Portanto, é o primeiro contato de nutrição do recém-nascido, composto por proteína, lactose, gordura, leucócitos, vitaminas A, E e K, imunoglobulinas e outros nutrientes essenciais para o desenvolvimento infantil.
Cinthia explica que o colostro é ajustado às necessidades do momento, conforme a capacidade do estômago do bebê. A principal função é imunizar o recém-nascido, mas também tem efeito laxativo para expulsar o mecônio que está presente no intestino, além de prevenir icterícia, alergias, diarreias e infecções intestinais, favorecendo o equilíbrio da flora intestinal.
Para ajudar a estimular a descida do colostro, a enfermeira obstetra orienta que as mães ofereçam o seio em livre demanda e tenham paciência até a “descida do leite” que costuma acontecer por volta do terceiro dia pós-parto.
Segundo o Caderno de Atenção Básica do Ministério da Saúde (número 23, 2009), é recomendado que a criança seja amamentada sem restrições de horários e de tempo de permanência na mama: é a chamada amamentação em livre demanda. Naturalmente, nos primeiros meses, é normal que a criança mame com frequência – o documento aponta que pode acontecer de 8 a 12 vezes por dia.
A livre demanda é a maneira de ajustar a produção de leite de acordo com as necessidades da criança ao longo do tempo, pois ao crescer e engordar ela vai precisando de maior volume. Cada bebê tem um ritmo de mamada e cada mulher, um volume de produção de leite.
O choro constante e a alta demanda não é necessariamente sinal de fome do bebê, “leite fraco” ou pouco leite. Significa que ele está criando o próprio ritmo e se adaptando. “Existe o preconceito de que a criança precisa mamar a cada 3 horas e que todo choro é por fome. Esquecem que pode ser sono, fralda suja, tédio, necessidade de afeto ou contato físico, entre outras”, tranquiliza Cinthia.
Fique atenta: freio da língua e mastite
Nem sempre amamentar é fácil. A mulher pode encontrar problemas no caminho e, sem informação e sem entender os sinais, pode conduzir a um desmame precoce. Uma dessas causas de dor é o freio de língua curto no bebê, a anquiloglossia.
Desde 2014, é determinado por lei que seja realizado nas maternidades, nos hospitais públicos e privados o Teste da Linguinha para verificar se o freio da língua do bebê é curto. Esse problema congênito pode causar dor na mulher que amamenta por gerar fissuras no mamilo e também impede a ordenha da mama. O leite se acumula e pode levar a ingurgitamento e mastite.
Além disso, o bebê com essa condição tem mais trabalho de fazer a “pega” correta, o que pode ocasionar em gases, cólica e dificuldade para ganhar peso – todos esses considerados fatores de risco para o desmame precoce.
No entanto, a boa notícia é que a correção da anquiloglossia é uma cirurgia simples e pode ser feita pelo médico ou dentista capacitado, que realiza corte pequeno no freio da língua. Quando necessário, utiliza-se anestesia local.
Além da avaliação do Teste da Linguinha, se a mãe notar dificuldades com essas características, deve procurar uma consultora em amamentação capacitada e também buscar informações com o pediatra que acompanha o desenvolvimento da criança.
Outro problema que pode ser consequência do freio da língua, mas que também é comum em outras situações, é a mastite. “Quando o bebê não abocanha a aréola corretamente, não há completo esvaziamento da mama, favorecendo a inflamação”, explica a enfermeira obstetra.
A infecção também pode acontecer na introdução alimentar, com o aumento do intervalo entre as mamadas, em um desmame abrupto, com o uso de bicos artificiais ou de sutiãs inadequados.
Esse é uma das orientações que Cinthia costuma fornecer às clientes Omint no Programa Boa Hora. “Ensinamos a mãe a fazer o autoexame das mamas para identificar problemas como ingurgitamento ou ductos bloqueados para que ela saiba quando procurar ajuda”, conta.
Dentre os principais sinais da mastite estão vermelhidão, calor local, inchaço, dor, sensibilidade, febre alta, mal-estar, dor muscular, calafrio etc. Quando a mastite é infecciosa e há saída de pus, suspende-se a amamentação e passa a ser feita a ordenha da mama até sua completa melhora. Também é preciso fazer uso de antibiótico prescrito pelo médico.
Amamentação e fim da licença-maternidade
Apesar de a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendar que o aleitamento materno seja exclusivo por, pelo menos, os 6 primeiros meses de vida do bebê, muitas mães precisam interromper a amamentação ao término da licença-maternidade.
A continuidade desse processo deve acontecer por todos os benefícios de saúde já mencionados. No entanto, será necessário organização por parte da mãe e ajuda da rede de apoio para que seja possível realizar a extração do leite (com bomba ou com as mãos) de forma rotineira, bem como continuar com a amamentação sempre que estiver com a criança.
No retorno ao trabalho, será preciso fazer um estoque. É importante, no entanto, ficar atenta ao prazo de validade do leite materno, que é de 15 dias no congelador e 12 horas na geladeira. Cinthia lembra que a recomendação ideal é oferecer esse leite por meio de copos para amamentação, xícaras de café e/ou colheres dosadoras, pois esses utensílios não ocasionam a “confusão de bicos”, quando o bebê acaba preferindo os bicos artificiais (como de mamadeiras) por demandar uma sucção mais fácil.
Desmame gentil: o fim de uma história
Cada mãe terá a própria história de amamentação, que muitas vezes pode ser curta por diversos motivos e outras, longa. O aleitamento materno depende muito do acesso a informações, da rede de apoio, da rotina da mulher e das condições de saúde da mãe e do bebê.
Então, qual é o momento certo de interromper o aleitamento? Não existe fórmula única, mas Cinthia indica que o melhor caminho é quando mãe e bebê “sentirem” juntos a hora exata. O desmame inicia-se com a introdução alimentar, já que o bebê passa a mamar menos por começar a consumir outros alimentos e a produção de leite reduz.
Segundo a enfermeira obstetra, o desmame pode ocorrer de algumas formas:
– desmame abrupto: quando a mãe precisa interromper o aleitamento de uma hora para outra por conta de uma enfermidade, mastite, ingurgitamento ou algum outro motivo de força maior;
– desmame planejado ou gradual: quando a mãe precisa voltar ao trabalho e sabe que não poderá amamentar o bebê em livre demanda como antes e a produção de leite reduz aos poucos;
– desmame parcial ou gentil: quando as mamadas são interrompidas de forma gradual e substituídas por outros momentos de prazer e vínculo;
– desmame natural: quando a criança deixa o peito por livre e espontânea vontade.
Se optar por interromper o aleitamento, a mulher deve se sentir segura de que o vínculo com o bebê não vai mudar por conta disso. Para que o processo ocorra sem traumas, a enfermeira obstetra indica que a mãe não ofereça o seio, “mas também não recuse se o bebê procurar”.
O pai ou parceiro pode ser um grande aliado, ajudando a fazer o bebê dormir sem a sucção e ajudando a distrair a criança com brincadeiras e “explorações” quando surgir o pedido pela amamentação.
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Mitos e verdades do aleitamento materno
O senso comum muitas vezes traz ideias equivocadas e ultrapassadas sobre temas importantes para a sociedade. Com a amamentação, muitas mulheres ainda vivenciam um universo de palpites e desinformação. Para não ficar dúvidas, aqui trazemos alguns mitos e verdades do aleitamento materno.
1) Seios grandes muito leite, seios pequenos pouco leite.
Mito. O tamanho do seio é devido à composição corporal de glândulas, músculos e gordura. Portanto, não se pode estimar a produção de leite pelo tamanho do seio.
2) Mamilos planos ou invertidos inviabilizam o aleitamento.
Mito. O mamilo plano ou invertido pode dificultar um pouco as primeiras mamadas até o bebê entender como deve ser feito, “mas depois de um tempo a amamentação ocorre sem problemas”, orienta Cinthia.
3) Até a descida do leite não é necessário oferecer leite artificial.
Verdade. Logo após o parto já existe a produção de colostro, tipo de leite com características especiais para os primeiros dias de vida. A descida do leite ocorre geralmente por volta de 72 horas após o parto e o colostro é o suficiente para o bebê nesse período.
4) O bebê deve ser amamentado a cada 3 horas.
Mito. O bebê dever ser amamentado em livre demanda. Quando chora e sua mãe identifica o choro como fome é hora de amamentar.
5) Bicos artificiais podem causar desmame precoce.
Verdade. É consenso entre pesquisadores do tema que o uso de bicos artificiais aumenta as chances do desmame precoce.
6) Beber água aumenta o volume de leite produzido.
Mito. Ingerir uma boa quantidade de líquidos no período de amamentação é muito importante para a própria mãe e o funcionamento do seu organismo, inclusive para a produção de leite. Mas não significa que quanto mais água ingerida mais leite será produzido.
7) Toda mulher pode amamentar.
Parcialmente verdade. Anatomicamente, todas as mulheres têm condições de aleitar, mas nem todas conseguem. Fatores da saúde física e emocional são decisivos.
Doação de leite materno: como posso ajudar?
Como já sabemos, o leite materno é essencial nos primeiros 6 meses de vida de todos os recém-nascidos. Apesar dessa informação, nem todas as mães podem amamentar seus bebês. Por isso, a doação de leite se torna um ato muito importante nesse momento.
Segundo dados do site do governo federal, a cada ano, no Brasil, são estimados 330 mil nascimentos de bebês prematuros ou de baixo peso, o que representa 11% das crianças nascidas no País. Com o fornecimento de leite materno, eles têm mais chances de sobreviver.
No Brasil, a doação funciona por meio do Banco de Leite da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH) ou postos de coleta. A pessoa interessada pode encontrar todas as informações pelo site http://www.redeblh.fiocruz.br/ verificando assim a unidade mais próxima para a doação e recebendo todas as informações necessárias para efetuá-la.
É importante lembrar que toda mulher saudável, sem uso de medicamentos que afetem a amamentação e sem uso de drogas ilícitas pode realizar a doação de leite. Ela passará por um procedimento de triagem, que inclui a entrevista sobre hábitos e a realização de alguns exames para que seja verificado se está apta a doar. Todo o processo não tem nenhum custo.
Na doação, qualquer quantidade é bem-vinda, considerando que, dependendo do caso, apenas 1ml já é suficiente para nutrir um recém-nascido. Todo leite doado é rigorosamente analisado e pasteurizado, para que só depois possa ser fornecido às unidades neonatais.
Você também pode encontrar mais informações neste site: https://rblh.fiocruz.br/pagina-inicial-rede-blh
As dúvidas e inseguranças que afligem as mulheres na gestação, inclusive sobre o aleitamento, podem ser acolhidas por familiares e mulheres próximas à grávida com suas vivências. Uma equipe médica competente e atualizada também é essencial para esse momento tão especial e desafiador em que essa mulher escreve a própria história.
O Boa Hora é um programa da Omint que oferece esse acolhimento cheio de informação durante toda a gravidez e o pós-parto. Nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Campinas, o programa tem encontros presenciais entre gestante e profissionais capacitados, como enfermeiras. Nas demais regiões, o serviço é prestado virtualmente, o que não muda o principal objetivo, que é atender de forma personalizada às necessidades de cada mãe.
A enfermeira obstetra Cinthia Calsinski atua no Boa Hora há dez anos e conheceu a proposta ainda como uma cliente Omint. “Eu tenho um duplo olhar. Foi um programa que impactou muito minha vida como mãe e como profissional também. No Boa Hora não existe fórmula secreta. Cada mulher é única e a ajudamos a se encontrar na própria maternidade. É um trabalho que o impacto é visível e muito positivo, um privilégio”, relata.
No caso da amamentação, Cinthia aponta que muitas vezes a situação não está fluindo bem e consegue reverter em uma única consulta. “Temos artifícios para deixar a mulher muito bem no pós-parto. É um orgulho fazer parte desse time e vivenciar as transformações dessas famílias”, finaliza.
Para saber mais sobre o Boa Hora, entre em contato com a Central de Atendimento por meio do telefone 0800 726 4000, por meio do chat ou pelo WhatsApp. O programa é sujeito à análise e aprovação prévia da equipe de gestão em saúde da Omint.