Disponível em uma variedade de sabores e aromas, os cigarros eletrônicos viraram moda entre os mais jovens.
Conhecidos também como vape, pod ou e-cigarette, a comercialização, importação e propaganda são proibidos no Brasil, de acordo com a Resolução de Diretoria Colegiada da Anvisa: RDC nº 46, de 28 de agosto de 2009.
Contudo, mesmo com a proibição e com registros de pacientes internados devido ao comprometimento pulmonar pelo uso de cigarros eletrônicos, a moda dos vapes segue em alta. E a desinformação também.
Essa tendência de consumo pode estar atrelada a uma série de questões, que vão desde o ambiente em que esse público mais jovem está inserido, como festas e baladas, passando pelo desejo de aceitação social – algo que é muito comum durante essa fase da vida – até razões emocionais e familiares.
Para promover informação de qualidade sobre os malefícios do uso dos cigarros eletrônicos, entrevistamos o Dr. Ricardo Henrique Teixeira, que é pneumologista e médico credenciado Omint.
Aproveite para compartilhar esse conteúdo com quem precisa estar informado sobre o tema e assista o vídeo abaixo com o Dr. Ricardo.
Desejamos uma boa leitura!
Cigarros tradicionais x cigarros eletrônicos
Nos últimos anos, os cigarros eletrônicos ganharam popularidade como uma alternativa “mais segura” aos tradicionais, ou seja, o vape foi lançado com a proposta de minimizar os riscos causados pelos cigarros convencionais, uma vez que o indivíduo faria a substituição de um por outro.
No entanto, essa afirmação não é verdadeira. Os cigarros tradicionais, que são tão prejudiciais à saúde e bem-estar, vêm com uma embalagem que especifica todos os componentes presentes no produto, com instruções e riscos claros e ilustrados para que a pessoa saiba que está se expondo a um vício nocivo à saúde.
Já os cigarros eletrônicos, além de serem proibidos, não contém informações claras sobre quais substâncias estão presentes em sua composição.
O Dr. Ricardo esclarece que, além de ter nicotina, esse produto possui outras substâncias danosas à saúde, como metal pesado, níquel, chumbo, entre outros. E complementa: “Os cigarros eletrônicos não vem com rótulo e selo de qualidade. Não há controle sobre o que se consome e quais reações a pessoa pode desencadear”.
Além disso, de acordo com uma pesquisa brasileira intitulada “Estratégias de Tratamento da Dependência à Nicotina em Usuários de Cigarro Eletrônico – Uma Série de Casos”, apresenta uma importante informação: adeptos de cigarro eletrônico apresentam níveis de nicotina no organismo equivalentes aos de fumantes de mais de 20 cigarros convencionais por dia.
Ou seja, a longo prazo, o uso desse produto pode expor o usuário a um risco significativo de dependência e potenciais danos à saúde comparáveis aos associados ao tabagismo tradicional, contradizendo a ideia de que os cigarros eletrônicos são uma alternativa segura ao tabaco convencional.
Quais os riscos e sintomas associados ao uso de cigarro eletrônico?
Os sintomas podem variar de pessoa para pessoa, mas muitos começam com irritação na garganta, tosse persistente, e podem progredir para falta de ar e desconforto respiratório grave. “Em casos extremos, alguns pacientes podem até necessitar de intubação para respirar adequadamente”, comenta Dr. Ricardo Henrique Teixeira.
Ainda não temos estudos conclusivos sobre o malefício do cigarro eletrônico, mas sabe-se que os sintomas se assemelham aos dos cigarros comuns. Isso se deve, em parte, à queima de biomassa presente nesses produtos.
Essa queima de biomassa é um fator conhecido por causar enfisema e bronquite crônica, sendo observada não apenas em fumantes, mas também em pessoas expostas, a por exemplo, fogões a lenha.
Embora ainda haja incerteza sobre o impacto exato dos cigarros eletrônicos no desenvolvimento de enfisema e bronquite crônica, o Dr. Ricardo explica que eles desencadeiam inflamação das pequenas vias aéreas, conhecida como bronquiolite.
Casos graves, como a Evali, que é uma síndrome de lesão pulmonar associada ao uso de cigarros eletrônicos, têm sido relatados.
A Evali é uma condição grave que se assemelha à síndrome do desconforto respiratório do adulto, levando os pacientes a serem internados em unidades de terapia intensiva (UTIs) e, em alguns casos, requerendo intubação para suporte respiratório.
Como dissemos anteriormente, os efeitos a longo prazo do uso de cigarros eletrônicos ainda são desconhecidos, mas há relatos de pacientes que desenvolveram fibroses pulmonares, resultando em cicatrizes nos pulmões, causando falta de ar e fadiga crônica.
Essas sequelas representam uma séria ameaça à qualidade de vida dos usuários de cigarros eletrônicos.
Quais são os sintomas de alerta causados pelos cigarros eletrônicos?
Que o cigarro eletrônico faz mal, isso é evidente. E, como vimos anteriormente, eles desencadeiam sintomas semelhantes ao do cigarro tradicional, que são:
• tosse persistente;
• falta de ar;
• dores no peito;
• náuseas;
• fadigas;
• desconforto respiratório grave.
Se você experimentar algum desses sintomas após o uso de cigarros eletrônicos, é importante procurar atendimento médico imediatamente.
O que o cigarro eletrônico faz com o pulmão?
Os cigarros podem causar danos importantes aos pulmões, incluindo inflamação, lesões nos tecidos pulmonares e o desenvolvimento de condições respiratórias crônicas, como a bronquite e a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).
Quanto tempo leva para limpar o pulmão após parar de fumar?
Sabe-se que parar de fumar tabaco causa efeitos positivos no organismo, melhora a saúde pulmonar e reduz os riscos associados ao tabagismo. Mas quanto tempo leva para o pulmão se recuperar após abandonar o hábito dos cigarros tradicionais?
Depende! Logo nos primeiros dias, ocorre uma melhora perceptível nas papilas gustativas e nas células etmoidais responsáveis pelo olfato, explica Dr. Ricardo.
Essa recuperação permite uma apreciação mais plena dos sabores e aromas dos alimentos. No entanto, é importante ter cautela, pois a intensificação dessas sensações pode levar a uma compensação através do aumento do prazer em comer, o que pode resultar em ganho de peso.
Entre 5 e 15 anos após parar de fumar, observa-se uma diminuição significativa do risco cardiovascular. Isso significa que o coração e os vasos sanguíneos começam a se recuperar e apresentam um perfil de risco semelhante ao de alguém que nunca fumou.
Após 10 anos, o risco de desenvolver tumores se assemelha ao de uma pessoa que nunca teve contato com cigarros. Nesse ponto é importante ressaltar que o paciente não fica livre de desenvolver a condição, mas estatisticamente, as chances diminuem. Além disso, a função pulmonar começa a melhorar logo após parar de fumar.
No entanto, algumas alterações podem persistir, por exemplo, fumantes costumam ter uma quantidade maior de glândulas produtoras de muco ao longo das vias aéreas, e essa proporção não se reverte completamente após a cessação do tabagismo.
Como resultado, é possível que ex-fumantes experimentem um aumento persistente na produção de muco, manifestado por pigarro crônico. É importante ressaltar que isso não indica necessariamente uma condição patológica, mas sim uma adaptação do corpo ao hábito de fumar.
Como ainda não há estudos aprofundados sobre o cigarro eletrônico, não é possível afirmar em quanto tempo, ao abandonar esse tipo de dispositivo, o usuário sentirá efeitos positivos.
Cálculo anos-maços
Para estimar o impacto do tabagismo na saúde pulmonar, é comum calcular os “anos-maços”, que consistem na multiplicação do número de maços de cigarros fumados por dia pelo número de anos que o paciente fumou.
Esse cálculo fornece uma medida aproximada do dano acumulado ao longo do tempo e pode ajudar na avaliação do risco individual e na definição de estratégias de cessação do tabagismo.
Vamos supor que uma pessoa fume um maço de cigarros por dia durante 10 anos. O cálculo dos “anos-maços” seria:
1 maço/dia × 10 anos = 10 anos-maços.
Isso significa que essa pessoa acumulou o equivalente a 10 anos de tabagismo em um maço de cigarros por dia.
No caso dos cigarros eletrônicos, ainda não há uma mensuração dos danos causados a longo prazo.
Para quem deseja parar de fumar cigarros tradicionais, os cigarros eletrônicos são uma boa opção?
Embora a ideia de uso dos cigarros eletrônicos tenha sido apresentada dessa forma, ou seja, como uma alternativa aos cigarros comuns, é importante reconhecer que eles não são uma solução eficaz para a saúde.
Muitas vezes, o uso de cigarros eletrônicos pode simplesmente substituir um vício por outro, mantendo a dependência da nicotina e em outros substâncias desconhecidas.
6 estratégias para prevenir o uso de cigarros eletrônicos entre os jovens
#1. Compreensão dos fatores de risco: entender o que leva os jovens a iniciarem o uso de produtos como o vape norteia como os pais, responsáveis e o médico, podem ajudá-lo a enfrentar o vício. Isso contempla uma análise cuidadosa do ambiente familiar, social e educacional.
#2. Intervenção multidisciplinar: a prevenção do tabagismo e ao uso de cigarros eletrônicos requer uma intervenção que envolva diferentes perfis, incluindo o próprio paciente, família, escola e profissionais de saúde.
#3. Educação e informação são grandes aliadas: é fundamental educar os jovens sobre os riscos associados ao uso de cigarros eletrônicos e do tabagismo em geral. Isso inclui informações sobre os danos à saúde, como problemas respiratórios, cardiovasculares e câncer, bem como os riscos específicos associados aos cigarros eletrônicos, como a dependência da nicotina e os danos pulmonares.
#4. Tratamento medicamentoso e comportamental: o suporte médico e comportamental faz toda diferença no processo de desmame do vício. Isso pode incluir o uso de medicamentos como a terapia de reposição de nicotina, a bupropiona e a vareniclina, juntamente com terapias comportamentais com psicólogos para ajudar os jovens a lidarem com a dependência e os gatilhos que o levam a fumar.
#5. Motivação pessoal: além das intervenções externas, é primordial que o paciente esteja envolvido e comprometido em parar de fumar. Isso requer uma compreensão clara dos benefícios de abandonar o vício e uma forte determinação em superar os desafios associados à cessação do hábito.
#6. Atenção à saúde mental: ao utilizar medicamentos para ajudar na cessação do vício, é importante monitorar de perto a saúde mental dos jovens, especialmente aqueles com histórico de depressão ou outros transtornos psiquiátricos. Isso torna o tratamento mais seguro e eficaz.
Quem fuma cigarro eletrônico hoje, pode vir a consumir cigarros tradicionais no futuro?
Durante a adolescência, o cérebro está passando por um período de formação, com conexões cerebrais ainda em processo de desenvolvimento até cerca dos 25 anos de idade.
Durante esse processo torna-se mais propenso o desenvolvimento de vícios, e uma vez estabelecidos, esses vícios podem ser particularmente difíceis de serem superados a longo prazo.
Adolescentes que experimentam cigarros eletrônicos hoje enfrentam um risco elevado de se tornarem dependentes de nicotina e, consequentemente, de desenvolverem um vício em tabaco ao longo da vida.
O ciclo vicioso do tabagismo, uma vez iniciado na adolescência, pode persistir na idade adulta e acarretar sérios problemas de saúde. Reconhecer precocemente os malefícios do cigarro eletrônico ajuda na implementação de medidas de intervenção.
Como os pais podem abordar o uso de cigarros eletrônicos com os filhos adolescentes?
Diferentemente do tabagismo convencional, os cigarros eletrônicos deixam pouquíssimos vestígios de uso.
Enquanto o cheiro do cigarro tradicional é facilmente perceptível, o aroma da versão eletrônica é mais sutil, o que torna mais desafiador identificar seu uso. Portanto, os pais precisam adotar estratégias, como:
Atenção nos sinais não óbvios: como já compreendemos, os cigarros eletrônicos não deixam rastros tão notórios do seu uso, então os pais devem estar atentos a sinais como mudanças no comportamento do adolescente, alterações nos hábitos de sono ou alimentação e a presença de dispositivos eletrônicos em casa, como os vapes.
Mantenha o diálogo aberto: um ambiente acolhedor é propício para uma comunicação aberta, portanto, incentive seu filho a falar abertamente sobre as atividades sociais que tem e a compartilhar quaisquer preocupações que ele possa ter sobre o que é cigarro eletrônico e seus riscos, sem medo de julgamento ou punição.
Conheça os amigos do seu filho: entender o círculo social de seu filho é essencial para identificar potenciais influências negativas e comportamentos de risco. Mas, para além disso, saber com quem ele convive fora do âmbito familiar, ajuda você, pai, mãe ou responsável, a ter segurança e a confiar nas escolhas do seu filho.
Conversas difíceis são necessárias: é comum que durante essa fase da vida, tópicos mais delicados venham à tona na rotina familiar. E como lidar? É importante educar o jovem sobre os danos que o consumo desse produto causa à saúde e discutir maneiras de resistir à pressão dos colegas e evitar o envolvimento com substâncias prejudiciais.
A prevenção é o caminho para um futuro livre de tabagismo
Em meio à crescente popularidade dos cigarros eletrônicos entre os mais jovens, é fundamental promover a conscientização sobre os riscos associados a esse mau hábito.
Como destacado pelo Dr. Ricardo Henrique Teixeira, pneumologista e médico credenciado Omint, os danos causados pelos cigarros eletrônicos podem ser graves e potencialmente irreversíveis.
Nesse sentido, vale a adoção de intervenções multidisciplinares que envolvam a família, os profissionais de saúde, o próprio jovem e adolescente e a comunidade como um todo, para prevenir o uso desses dispositivos.
Portanto, ao compartilhar esse conteúdo e discutir os temas abordados com as pessoas ao seu redor, você contribui para disseminar informações importantes e ajuda a proteger a saúde e o bem-estar das gerações futuras.
Lembre-se sempre de que a prevenção é o melhor caminho para um futuro livre de tabagismo e de seus impactos negativos na saúde pulmonar e geral.
Até a próxima!