A hepatite é uma doença que acomete o fígado, causada por diversos vírus classificados por letras do alfabeto que, apesar de sempre atingirem o mesmo órgão, podem se comportar de forma diferente e ter mais de uma forma de transmissão.
Portanto, vamos entender o que são hepatites virais, sintomas, prevenção e tratamentos? Para nos ajudar com o assunto, convidamos a Dra. Mirian Dal Ben, Infectologista, Mestre e Doutora pelo Departamento de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da USP e credenciada Omint, que nos explicou os principais pontos.
No final do texto, você ainda pode conferir o que é a hepatite misteriosa que tem atingido crianças pelo mundo.
Neste artigo você vai conferir:
O que são hepatites virais e como são transmitidas?
Como posso me prevenir?
Como é feito o tratamento?
Bônus: O que é a hepatite “misteriosa” do adenovírus em crianças que surgiu há pouco tempo?
O que são hepatites virais?
As hepatites virais são doenças que causam infecções no fígado por meio de um vírus. Como podem ser causadas por diferentes agentes e ter várias formas de transmissão, são diferenciadas por letras do alfabeto, como A, B, C, D e E.
Dessa infecção, podem ocorrer diferentes alterações no fígado, classificadas como leve, moderada ou grave. Cada uma dessas mudanças dependerá do tipo de hepatite e, em alguns casos, do tempo que o vírus está presente no corpo.
Segundo o Boletim Epidemiológico de Hepatites de 2021, os tipos mais comuns no Brasil são as A, B e C. Vamos conferir mais detalhadamente cada um.
Hepatite A
O vírus causador da hepatite do tipo A, conhecido por HAV ou “hepatite infecciosa”, se replica no fígado e é eliminado pelas fezes. A contaminação desse tipo é conhecida como fecal-oral.
A transmissão ocorre principalmente em áreas que o saneamento básico é escasso. Não tendo acesso à água potável e limpa para fazer a higiene pessoal, a população pode se contaminar mais facilmente.
Os sintomas para esse tipo de hepatite são fadiga, mal-estar, febre e dores musculares, apresentando, na sequência, diarreia, enjoos e vômitos, além dos olhos com cor amarelada. Os sintomas podem aparecer de 15 até 50 dias após o contato, e, nesse caso, na maioria dos indivíduos, a doença é eliminada pelo próprio corpo em até dois meses.
Hepatite B
Já a hepatite B, causada pelo vírus denominado HBV, está presente no sangue e em secreções, e é classificada como infecção sexualmente transmissível (IST).
Seu comportamento é um pouco diferente. Após a infecção, a doença pode se resolver de forma espontânea em até 6 meses após os primeiros sintomas. Para algumas pessoas, porém, isso não acontece. Elas desenvolvem a forma crônica e severa da doença anos depois, por ser, muitas vezes, uma infecção silenciosa. Em crianças, por exemplo, a chance de a forma crônica ser desenvolvida é muito maior.
Entre os sintomas, estão: tonturas, enjoos e dores abdominais. Nessa forma, os olhos amarelados não são muito comuns.
Vale destacar que, além da transmissão sexual, o vírus da hepatite B também pode ser passado de mãe para filho durante a gestação; por meio do compartilhamento de itens de higiene – giletes, alicates e até mesmo escovas de dente – e em locais como estúdios de tatuagem, consultórios odontológicos e manicures que não seguem as normas para evitar esse tipo de transmissão.
Hoje, é importante ressaltar que as formas de transmissão já foram bastante estudadas e conhecidas, e a orientação já é muito bem definida para evitar a contaminação desses locais. O importante é que você fique de olho se elas estão sendo seguidas. Aqui você pode ler mais sobre biossegurança em consultórios odontológicos, por exemplo.
Hepatite C
A hepatite C, causada pelo vírus HCV, é uma infecção que evolui de forma muito silenciosa, e, em sua fase severa e crônica, pode desencadear um quadro de cirrose. No Brasil, observa-se maior prevalência dos casos em pessoas acima dos 40 anos. Muitas delas nem sabem ser portadoras do vírus, só descobrindo na fase mais grave.
Seus sintomas são muito raros, por isso a testagem se torna tão importante. Ela pode ser transmitida por contato com sangue contaminado, equipamentos esterilizados de forma incorreta em consultórios odontológicos ou salões de beleza, por exemplo. Transmissão via relações sexuais e da mãe para o bebê são muito raras.
Hepatite D
A hepatite D, causada pelo vírus HDV, é uma forma grave de hepatite viral crônica, com probabilidade maior de evolução para cirrose e câncer de fígado.
As formas de transmissão são as mesmas da hepatite B, e os sintomas, quando presentes, também são bem parecidos: cansaço, tontura, dor abdominal, enjoos, febre etc.
Hepatite E
A hepatite E é causada pelo vírus HEV e, na maioria dos casos, não oferece muitos riscos, exceto em gestantes. No Brasil, não há registros da doença, que é mais comum na Ásia e na África.
As formas de transmissão também são fecal-oral e por alimentos mal cozidos, bem parecidos com as da hepatite A. Por isso, também é encontrada mais facilmente em locais com condições escassas de saneamento e higiene.
É importante lembrar que as hepatites D e E não são muito comuns, enquanto as A, B e C são bem mais identificadas no Brasil.
Como prevenir?
As hepatites são causadas por vírus diferentes com formas distintas de transmissão. Para facilitar nosso entendimento sobre cada uma, vamos separar as melhores formas de prevenção por tipos. Confira!
Hepatite A: em primeiro lugar, vacine-se contra ela! Além disso, lave as mãos, cozinhe bem os alimentos, lave adequadamente objetos de uso comum como copos, pratos e talheres, proteja-se nas relações sexuais. Em geral, tenha cuidados de higiene pessoal bem executados.
Hepatite B: Garanta ter sido vacinado! Não compartilhe nenhum tipo de objeto que tenha entrado em contato com sangue, proteja-se nas relações sexuais e, caso pretenda engravidar ou esteja grávida, é necessário que o teste seja feito antes para descartar a infecção ou para que isso seja tratado conforme as orientações médicas durante a gestação e período perinatal.
Hepatite C: Não compartilhe objetos como lâminas de barbear, escovas de dentes ou alicates. Se for fazer piercing ou tatuagens, garanta que os materiais sejam estéreis e de uso único. Se você tem mais de 40 anos, faça pelo menos um teste de screening de hepatite C para garantir que não tem a infecção.
Hepatite D: A prevenção também são as mesmas da hepatite B.
Hepatite E: a forma de prevenção da hepatite E é a mesma da hepatite A.
Quais são os tratamentos?
Assim como as formas de prevenção podem ser diferentes, os tratamentos para a hepatite também podem variar. Vamos conferir de acordo com cada tipo.
Hepatite A: não há nenhum tratamento para esse tipo, uma vez que o próprio corpo é capaz de se curar sozinho.
Hepatite B: feito com base medicamentosa, com antivirais recomendados pelo médico. Importante ressaltar que essas medicações podem não ser capazes de curar a hepatite B, mas ajudam a evitar o desenvolvimento de quadros piores da doença.
Hepatite C: também feito com base medicamentosa de antivirais, porém, nesse caso, há chances muito altas de cura.
Hepatite D: assim como na hepatite B, o acompanhamento com medicação também é feito com o objetivo de evitar danos maiores, porém também não há cura.
Hepatite E: também não possui tratamento específico: na maioria das vezes, é combatida pelo próprio organismo.
Conclusão
Agora que você já viu como essa doença se manifesta, é transmitida e quais os danos para o nosso organismo, você deve ter percebido, também, como é fácil evitá-la, não é mesmo?
Ter cuidados com a higiene básica, usar preservativos e estar atento à higiene dos locais é um passo muito importante para que você fique longe dessa infecção. Além disso, manter a vacinação em dia é imprescindível para conservar a sua saúde em dia.
Neste mês, acontece a campanha Julho Amarelo, que tem como objetivo reforçar a importância das campanhas de prevenção e controle das hepatites virais. Portanto, faça sua parte! Não deixe de manter as suas consultas e exames em dia. A hepatite muitas vezes pode ser silenciosa e só se manifestar em um estágio avançado da doença. Por isso, quanto antes você detectá-la, melhor.
A boa notícia é que dá para se prevenir, né? Que tal colocar em prática?
A seguir, você pode conferir o vídeo completo sobre o assunto com a Dra. Mirian:
Bônus: o que é a hepatite misteriosa que tem surgido em crianças e qual sua relação com o adenovírus?
Para nos auxiliar com essa questão, a Dra. Mirian Dal Ben compartilhou algumas informações importantes:
“Desde o começo do ano, uma hepatite misteriosa começou a aparecer na Inglaterra e na Escócia, principalmente em crianças com menos de 5 anos. Os sintomas são os mesmos das hepatites virais, como enjoo, dores abdominais, vômitos e olhos amarelados. O problema é que a hepatite, nesse caso, evolui de forma muito rápida e algumas crianças necessitaram até mesmo de um transplante de fígado. O que chamou a atenção dos cientistas é que, em 95% dos casos identificados, as crianças não foram vacinadas contra a Covid-119 e em metade delas foram identificadas a presença do adenovírus.”
Segundo informações do Centro de Controle de Prevenção e Doenças (CDC), pode existir a relação entre a falta de exposição das crianças ao adenovírus e a decorrente falta de anticorpos para o mesmo, fazendo com que elas desenvolvam outras infecções decorrentes disso.
No Brasil, existem alguns casos em investigação, mas ainda assim não se sabe muito sobre a doença, que continua sendo investigada.
De qualquer forma, se notar sintomas como esses, procure um médico para que a criança seja avaliada.