Hipertensão: como prevenir e controlar essa doença invisível

Publicado por Mariana Bertacini

2 de abril de 2025

A hipertensão é conhecida como uma doença silenciosa, muitas vezes presente por anos sem apresentar sintomas evidentes, enquanto afeta lentamente órgãos vitais como o coração, o cérebro e os rins. Por ser difícil de perceber, ela se torna um risco significativo para a saúde da população.

No Brasil, o cenário da hipertensão é ainda mais crítico do que em muitas outras nações, conforme aponta o relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre os efeitos globais da doença, lançado durante sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas.

Enquanto, na média global, 33% dos adultos entre 30 e 79 anos são afetados pela doença, no Brasil, estima-se que o índice alcance 45%, ou seja, 50,7 milhões de pessoas. Desse total, 62% possuem o diagnóstico, mas apenas 33% estão com a pressão controlada.

Continue lendo para entender melhor o que é a hipertensão, suas causas, sintomas, tratamentos disponíveis e como prevenir essa condição que afeta milhões de brasileiros.

O que é hipertensão?

A hipertensão, popularmente conhecida como pressão alta, é uma condição crônica caracterizada por níveis elevados da pressão arterial, acima dos padrões considerados normais.

De acordo com as novas diretrizes europeias, a pressão arterial superior a 140/90 mmHg já configura hipertensão. Até há pouco tempo, o senso comum dizia que a pressão 12 por 8 era “normal” e os médicos classificavam como “ótima”. No entanto, agora essa medição passa a ser considerada alta.

A pressão arterial é composta por duas medições. São elas:

  1. pressão arterial sistólica: é a pressão exercida pelo sangue nas artérias quando o coração se contrai (bate), bombeando sangue para o corpo. Representa o valor mais alto na medição da pressão arterial;
  2. pressão arterial diastólica: é a pressão exercida pelo sangue nas artérias quando o coração está relaxado entre as batidas, ou seja, na fase de repouso cardíaco. Corresponde ao valor mais baixo na medição da pressão arterial.

Com esses conceitos em mente, é fundamental considerar as novas diretrizes para a classificação da pressão arterial (PA):

  • pressão arterial não elevada: abaixo de 120 por 70 milímetros de mercúrio (mmHg) — o popular “12 por 7”;
  • pressão arterial elevada: entre 120 por 70 mmHg e 139 por 89 mmHg (de 12 por 7 a “quase” 14 por 9);
  • hipertensão arterial: maior que 140 por 90 mmHg (acima de 14 por 9).

Quais são as causas da hipertensão?

As causas da hipertensão são múltiplas e frequentemente envolvem a combinação de fatores genéticos, estilo de vida, dieta rica em sódio, sedentarismo, obesidade, tabagismo, alto consumo de álcool e estresse crônico.

O componente genético indica que é maior a probabilidade de desenvolvimento precoce da doença. Essa predisposição genética é associada a variações específicas (polimorfismos) em genes que participam do controle da pressão arterial, resultando em diferentes níveis de suscetibilidade entre indivíduos.

No entanto, apesar da relevância dessa herança, especialistas afirmam que são os comportamentos e hábitos de vida que têm maior influência no desenvolvimento da hipertensão.

Ou seja, a genética funciona como  fator predisponente, aumentando a suscetibilidade à hipertensão, mas são os hábitos e comportamentos cotidianos, como sedentarismo, dieta inadequada, sobrepeso e tabagismo, que de fato determinam o surgimento da doença. Por isso, a melhor estratégia preventiva continua sendo adotar um estilo de vida saudável.

 

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Principais sintomas da hipertensão

Muitas vezes silenciosa, a hipertensão pode passar despercebida. Entretanto, alguns sintomas podem surgir como:

  • dor de cabeça forte e constante;
  • tontura e/ou náusea;
  • visão turva;
  • zumbido no ouvido;
  • palpitações cardíacas.

Nem sempre presentes, outros sintomas são:

  • sangramento pelo nariz;
  • dificuldade para respirar;
  • cansaço excessivo;
  • visão embaçada;
  • dor no peito;
  • perda da consciência;
  • ansiedade excessiva.

Portanto, esses são os principais sintomas que as pessoas devem observar e indicam a necessidade de procurar um médico para avaliação.

Fatores de risco para hipertensão

Entre os principais fatores de risco, estão histórico familiar de hipertensão, obesidade, estilo de vida sedentário, tabagismo, consumo excessivo de álcool e dietas ricas em sal e pobres em potássio.

Além desses fatores, de acordo com o portal do Ministério da Saúde, o número de casos aumenta com a idade, sendo mais comum entre homens com até 50 anos, mulheres acima de 50 anos e pessoas com diabetes. O sobrepeso e a obesidade podem antecipar o aparecimento da doença em até 10 anos.

Como é feito o diagnóstico da hipertensão?

O diagnóstico da hipertensão deve ser feito em mais de uma consulta médica, realizada por um cardiologista ou clínico geral, que avaliará o histórico clínico do paciente.

Podem ser necessárias de 2 a 3 visitas com intervalos de 1 a 4 semanas. O Ministério da Saúde destaca que diagnósticos feitos em uma única consulta só são válidos se a pressão arterial (PA) do paciente estiver igual ou superior a 180/110 mmHg e houver evidência de doença cardiovascular.

Além da medição em consultório, práticas como Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA) e Medição Residencial da Pressão Arterial (MRPA) são recomendadas para a avaliação mais precisa.

Muitas vezes, pacientes que estão em fase de diagnóstico passam por fenômenos como “hipertensão do jaleco branco” ou a hipertensão mascarada.

A “hipertensão do jaleco branco” acontece quando a pressão arterial aumenta significativamente durante a consulta médica devido à ansiedade ou ao nervosismo na presença do profissional de saúde, mas se mantém normal fora desse ambiente.

Já a hipertensão mascarada acontece quando a pressão arterial está normal durante a consulta, mas fica elevada em outros momentos do dia. Por isso, o diagnóstico geralmente é associado a exames que mostram um panorama mais geral de aferições, em diferentes momentos da rotina.

Tratamento da hipertensão

O tratamento envolve duas grandes abordagens: mudanças no estilo de vida e medicamentos, dependendo do estágio e do risco associado à doença. É importante lembrar que a hipertensão não possui cura definitiva, mas pode ser controlada com tratamento adequado, permitindo uma vida saudável e normal.

Medicamentos: medicamentos anti-hipertensivos geralmente contêm diuréticos, bloqueadores dos canais de cálcio, inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA), entre outros.

Mudanças no estilo de vida: incluem redução de sal, dieta rica em potássio, exercícios físicos regulares, manutenção do peso ideal, evitar consumo excessivo de álcool e abandono do tabagismo.

Estudo brasileiro recente, publicado na revista Scientific Reports e conduzido pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), concluiu que o treinamento de força (musculação), realizado dois ou três dias por semana com carga moderada a alta, é eficaz na redução da pressão arterial.

A pesquisa envolveu a análise detalhada dos efeitos desse tipo de exercício em 253 participantes, mostrando que benefícios significativos surgem a partir da 20ª sessão, com efeitos hipotensivos podendo durar até 14 semanas após o término dos exercícios.

Os pesquisadores ressaltam que o treinamento de força promove importantes adaptações cardiovasculares, como aumento da vasodilatação, maior fluxo sanguíneo, redução da frequência cardíaca em repouso e melhor eficiência cardíaca.

Tais adaptações são resultado, principalmente, do aumento da produção de óxido nítrico durante a atividade física. Com isso, a musculação pode ser uma estratégia valiosa no tratamento não farmacológico da hipertensão arterial, devendo sempre ser adaptada individualmente conforme as condições e os objetivos pessoais.

 

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Como prevenir a hipertensão?

Prevenir a hipertensão envolve adotar hábitos saudáveis desde cedo, incluindo dieta equilibrada, redução de sal e açúcares refinados, prática regular de exercícios físicos e controle efetivo do peso corporal. 

Uma doença diferente da hipertensão que exige cuidados igualmente atentos na prevenção e no acompanhamento é a hipertensão gestacional. De acordo com o Ministério da Saúde, essa doença é diagnosticada a partir da 20ª semana da gravidez, apresentando níveis elevados da pressão arterial e, normalmente, sendo resolvida após o nascimento do bebê.

A hipertensão gestacional acontece devido às alterações que a placenta provoca no organismo da gestante. A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia aponta que o quadro de pré-eclâmpsia ou doença hipertensiva específica gestacional são situações que devem ser controladas de perto pelo ginecologista com orientação nutricional, medicamentos e exames contínuos.

Embora na maioria dos casos não traga consequências graves, há risco de progressão para quadros clínicos mais sérios. A prevenção é semelhante aos já citados, com alimentação saudável, exercícios físicos e evitar alimentos ultraprocessados. Além disso, para as gestantes é indicado reduzir o consumo de café.

Complicações da hipertensão não tratada

A ausência de tratamento adequado pode levar a complicações graves, como acidente vascular cerebral (AVC), infarto do miocárdio, insuficiência renal e até mesmo perda da visão.

Ela também é frequentemente associada a outras doenças crônicas e eventos, como morte súbita, acidente vascular encefálico, insuficiência cardíaca e doença arterial periférica.

Mitos e verdades sobre a hipertensão

Confira algumas afirmações incorretas sobre a hipertensão e o fato sobre elas.

Mito: Quem não sente sintomas não tem hipertensão.

Verdade: A hipertensão frequentemente não gera sintomas visíveis.

 

Mito: Hipertensão só afeta idosos.

Verdade: Pessoas jovens também podem desenvolver hipertensão.

 

Mito: Remédios para pressão alta podem ser interrompidos após normalização da pressão.

Verdade: O tratamento geralmente precisa ser contínuo.

 

Mito: Apenas pessoas acima do peso têm hipertensão.

Verdade: Pessoas com peso normal também podem ser hipertensas.

 

Mito: Se a pressão arterial estiver um pouco alta, não há problema.

Verdade: Pequenos aumentos na pressão arterial já representam risco significativo.

Conclusão

A hipertensão é uma condição séria, mas amplamente controlável por meio de mudanças no estilo de vida e da adesão ao tratamento médico adequado. É fundamental realizar exames periódicos e adotar uma rotina saudável para prevenir complicações futuras.

Portanto, a mensagem que fica é para que todos estejam atentos a essa doença, mantenham um estilo de vida saudável e, ao perceberem os sintomas, busquem ajuda médica.

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